segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Uma breve reflexão a cerca do Mito

         O surgimento do mito teve inicio na necessidade de explicação sobre o surgimento e a motivo das coisas, os poderes do divino sobre a natureza e os homens, suas funções e finalidade. Ele toma a forma de narrativa, criada por um narrador que possua credibilidade diante do grupo social, poder de liderança e domínio da linguagem convincente, e que, acima de tudo, favoreça o que gostaria de impor, mas adequando a estrutura do mito de uma forma que acalme os temores e de respostas às necessidades do grupo.
          É a pessoa do narrador quem estrutura do mito, porém ele só toma forma e se firma a partir da aceitação coletiva, ou seja, o mito só existe quando se torna uma crença comum. É essa crença quem dá a vida ao mito.

Basicamente o mito desempenha três funções:

1. Explicar – O presente é como é devido a algum acontecimento passado, cujos reflexos não foram obscurecidos  pelo tempo, como por exemplo, dois irmãos gêmeos ainda crianças são criados e amamentados por uma loba e através deles é fundado um dos maiores impérios da história.

2. Disciplinar – o mito organiza as relações sociais, de modo a determinar e a justificar um sistema complexo de permissões e proibições. O mito de Édipo existe em diversos grupos sociais e tem a função de proibição do incesto, por exemplo. O “sofrimento” destinado a quem não cumprir regras funciona como “dissuasão” e garante a manutenção do mito.

3. Compensar – o mito conta algo que aconteceu e não é mais possível de acontecer, mas que serve tanto para compensar os humanos por alguma perda, como para garantir-lhes que esse erro foi corrigido no presente, oferecendo uma visão estabilizada da Natureza e do meio que a cerca (Chauí, p. 162).

          O pensamento mítico envolve e relaciona elementos diversos, fazendo com que eles ajam entre si. Depois, ele põe ordem no mundo, dando um sentido metafórico às coisas, aos fatos. Em terceiro lugar, ele cria relações entre os seres humanos e naturais, mantendo vínculos ocultos que necessitam ser esclarecidos. O mito se constitui em um fator de acomodação do homem ao meio em que vive.

Para que o mito sobreviva, é necessário a existência do sacrifício, que organiza  nossa concepção  de mundo. Em diversas sociedades, o sacrifício humano se constituía em um canal de relações com a divindade, com o objetivo de aplacar e ao mesmo tempo obter o favor das divindades.
Os hebreus, segundo o Velho Testamento, ofertavam em holocausto o melhor de suas criações, quase sempre  um cordeiro ou ovelha, porque eram as vítimas perfeitas – as que não esboçavam reação  ao sacrifício, daí a expressão “bode expiatório” (aquele que expia a culpa do outro).

        A repetição dos sacrifícios dá origem aos rituais, que são os mitos em sua maior materialização. Com a repetição dos rituais, surgiram as religiões.

Fonte:

CHAUÍ, Marilena.Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 2000, p. 161-3.

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